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BRASIL

O CORNO AGORA SOU EU

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Véi! O Ananias Pantoja da Silva, nosso macho em destaque, atendia pelo carinhoso apelido de Panta. Era um furacão. Um reprodutor voraz. Tinha onze filhos dentro do casamento e mais oito fora.

Em uma época que não havia pensão alimentícia regulamentada,
Panta nadava de braçada no mundo da sedução e da reprodução desenfreada, “num tava nem aí pra bagaceira,” conforme se diz naquelas bandas. Um típico encantador de tolinhas. Vá lá! Todo ornamentado em ouro – até um dente o era – e isso lhe dava um charme brega, coisa que ele sabia instrumentalizar a favor da própria lábia.
Mas há dias que não são para Pelés… nem para Aírtons, né não? Em um desses dias, Panta marcou um encontro clandestino com uma fogosa amante, mulher de um valentão e aqui, fiquemos calmos, ele não vai morrer… mas quem disse que a gostosa deu as caras? Deu-lhe sim, um lindo bolo. Naquele dia haveria o baile do ano e na cidade era só no que se falava. Até seu Castro, recém-chegado gerente do Banco da Amazônia, deixou escapar o seu entusiasmo pelo clima de corte em festa que tomou conta da cidade, visivelmente estampado na cara das madames locais e concluiu:

– Rapaz! Quando botei a mudança no caminhão, um invejoso disse que eu estava indo para o boga do mundo. Que nada! Miracema do Norte-GO tem sociedade! Ou melhor, tem uma alta society, uma elite. Não é um amontoado de aldeões com pele encardida, limo nos dentes e faca na cintura… é uma coisa bonita, dá gosto na gente.

As costureiras, há tempos, não paravam de receber encomendas de vestidos. Os alfaiates, também, abarrotados, cortando e costurando, faziam os ajustes necessários para, no final, entregar ternos novinhos em folha.
Na pequena e pacata cidade, como em suas equivalentes pelo Brasil afora, um caso de chifre, supostamente bem escondido, mas tão explícito nas boas rodas de fofoca, causava fuxicos na boca das comadres, inveja nos paqueradores que só pegavam gripe e uma nuvem de nervosismo a pairar sobre todos. Sem dúvida, havia certa apreensão por não se saber o desfecho que estaria por vir. Sim! Ninguém era doido de ir contar para o corno valentão. Quem, ali, não se borrava de medo dele?Bem! Nunca se sabe, alguém poderia criar coragem e contar.

Entretanto, em Panta, o cio vencia o medo, dava-lhe a força necessária para se aventurar.
É do conhecimento de todos, a boa cultura interiorana que avança sobre os grandes centros, aplaude o macho alfa, esse insaciável fornicador. A vaidade desse tipo de garanhão, junto com a admiração de pretensos candidatos a pegador, deixou o ego e a autoestima de Panta lá nas alturas.

Ocorre, que ao comer o bolo e as moscas do encontro frustrado, Panta se recompôs, foi para a sua casa, tomou banho, botou o paletó, deixou a relegada e oprimida esposa para trás e foi para o grande baile em busca de sangue novo, de nova aventura.

Lá na festa, qual não foi a sua surpresa ao ver a bonitona que lhe driblou, toda faceira, a dançar com o feliz marido, o nosso valentão. Até lhe deu uma piscadela, em sinal, vá lá saber, de que entre ambos estava tudo bem, mas que naquela noite tão especial, nã nã nim nã não, queria era aproveitar a banda que veio lá da capital para dançar. Claro! Oficialmente, de público, o seu parceiro era o marido. Desfilar e dançar, só com ele. O normal não é mesmo mostrar que está tudo normal, cada coisa no seu lugar? O amor proibido, esse sim, tinha obrigatoriamente de ser clandestino.

O nosso comedor de bolo, inconformado com a situação, saiu do baile, entrou em seu fusca, acelerou e, lá na curva de chagada ao bairro Correntinho, não pode evitar um dos postes. Bateu, parou, saiu, sentou-se no meio-fio e falou baixinho para si:

– Esse deve ser, aqui por essa redondeza, o primeiro caso de chifre em que a mulher chifra o amante com o próprio marido… onde já se viu? Que porra de flagrante é esse que eu dei? Tá tudo pelo avesso. Como é que pode? Eu!..Ver tudo aquilo e ter que fazer cara de alheio, todo distanciado e dissimulado, fingindo indiferença, sem poder enfrentar o valentão. Que tipo de macho eu sou? Puta que pariu! Cá estou nessa merda de situação. Tá tudo fora de lugar. Sou o único caso de amante que pega a dor de corno de um corno que nem a dor de corno nunca sentiu! Uff!

JOSÉ EPIFANIO PARENTE AGUIAR

Sou um Baby Boomer, portanto um véi esquisito para as gerações X, Y, Z e um monstrengo para a geração Alfa.

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