Artigo
Prefiro Dançar
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Apontam, certas teorias, que entre o fazer sexo e o degustar uma barra de chocolate, algumas chocólatras preferem a iguaria.
Mas deixemos na mão das sexólogas, dos psicanalistas e dos estridentes filósofos de boteco, as tentativas de elucidar o porquê, em se tratando de sexo, da mulher ser mais contida que o homem, resguardando-se, fique claro, as exces-
sões.
Vai, aqui, um episódio em que o ato sexual foi relegado a segundo plano. Talvez porque, nesse caso, a senhorita em questão, tanto quanto muitas outras, soubesse que tinha e tem homens disponíveis sempre que quiser. Por outro lado, como é sabido, o homem, quase nunca tem sexo quando quer, na hora que quer e, principalmente, com quem gostaria, ainda que a liberalidade esteja historicamente aumentando.
Zé Miguel, tratorista da Prefeitura Municipal de Miracema do Tocantins-TO, hoje aposentado, era o sujeito mais animado que já se viu num forró. Além de ser um tipão, tinha leveza no dançar e o seu suor não fedia. As mulheres sempre o puxavam. De todos, o mais requisitado no salão. Risonho, falava alto, tinha porte atlético, dançava meio debruçado sobre as baixinhas, ajudando-as a nivelar suas estaturas com a dele e isso dava uma certa graça ao seu jeito de evoluir no vaivém entre os dançantes.
Em uma das tantas festas, convenceu uma parceira para darem um discreta escapada, a pé mesmo, ali para as redondezas, pois não tinha carro e nem dinheiro para pagar o motel. Ela, aínda que adepta do sempre quebrado protocolo que recomenda a uma mulher nunca furunfar na primeira vez que sai, mesmo que esteja indo para a mais discreta quebrada… dane-se o protocolo… topou!
Saíram, então, de fininho e foram fazer o bem-bom dentro de um casarão sem teto, abandonado, com o piso umedecido e esverdeado de tanto lodo. No auge da esfregação, duas estaturas tão díspares forçavam Zé Miguel a dobrar as pernas para chegar ao ponto, tentando botar na mesma horizontalidade os aconchegos de ambos. Alguns tijolos providenciais foram amontoados por Zé para fazer um batente. Deu certo? Não, não deu!
Ainda ficou uma diferença de estatura que forçou Zé, com a calça arriada, a dobrar as pernas, causando-lhe o dispêndio de energia a ser canalizada e gasta no nhanhar. Não bastando, as muitas cervejas que bebeu estavam freando a sua libido, quase apagando o seu fogo, retardando sua chegada à erupção, à explosão, aos fogos de artifício que iriam dar o colorido especial ao céu do seu prazer e… já não chega de tantos clichês? Não! Perdendo cada vez mais as forças das pernas… nada! Nada de erupção, nada de explosão, nada de porra nenhuma! A boa moça, impaciente, deu o seu ultimato:
– Derrama logo essa goma que eu quero ir dançar!
Zé, suado e desgastado, sem ter alcançado o ponto, suspendeu a calça , pegou a doce pequena pela mão e voltaram para o forró com suas caras de paisagem. Ela, desgastada, mostrando no semblante uma ligeira palidez pós-coito, mas feliz da vida, passou o resto da noite saboreando a sua dança.
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JOSÉ EPIFANIO PARENTE AGUIAR
Sou um Baby Boomer, portanto um véi esquisito para as gerações X, Y, Z e um monstrengo para a geração Alfa.
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